sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O HOMEM PÚBLICO N. 1

Tarde aprendi bom mesmo é dar a alma como lavada.
Não há razão para conservar este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita que vai sendo cortada deixando uma sombra no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali de roupa escura sorrindo ou fingindo ouvir.
No entanto também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais quem são,
de uma doçura venenosa de tão funda.

Tenho uma folha branca e limpa à minha espera:
mudo convite
tenho uma cama branca e limpa à minha espera:
mudo convite
tenho uma vida branca e limpa à minha espera:

Expoente da chamada poesia marginal dos anos 70, a poeta carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) tornou-se conhecida em escala nacional depois de figurar na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976.
Alma inquieta, Ana Cristina viveu mais de uma vez, viajou pelo mundo, estudou literatura e cinema, publicou poesia em edições independentes. Escritora compulsiva, produzia poemas, cartas, artigos para jornais e revistas, traduções, ensaios. Entre os principais títulos deixados por Ana Cristina Cesar, encontram-se A Teus Pés, Inéditos e Dispersos, e Crítica e Tradução. Ana suicidou-se em 29 de outubro de 1983, aos 31 anos.
O certo é que Ana Cristina Cesar tornou-se o nome mais forte entre todos os identificados com a poesia marginal.
O poeta carioca Armando Freitas Filho, que foi amigo de Ana Cristina e se tornou, depois, o principal divulgador de sua obra, tem uma frase interessante para caracterizar a rapidez e a brevidade da vida e da obra da autora de A Teus Pés. Para ele, a amiga queria "pegar o pássaro sem interromper o seu vôo".

2 comentários:

  1. Alguém já disse q vcs se parecem? Impressionate chèri! Bjos muitos, tô amando esse novo ciclo com desejos de q ele perdure.
    Quando puder me dá notícias do curso.Ou apareça, vai ser mais interessante!

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  2. "(Como é frágil o coração humano —
    espelhado poço de pensamentos.
    Tão profundo e trêmulo instrumento
    de vidro, que canta
    ou chora.)"

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